terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Crise e síndrome de Estocolmo

O conservadorismo gostaria de impor a Dilma no Brasil a mesma receita adotada por Mário Monti na Itália.

Equivalente a que os republicanos querem enfiar goela abaixo de Obama nos EUA.

A mesma purga que o comissariado do euro aplica contra as populações da Espanha, Portugal, Grécia, Bélgica etc.

Com as consequências sabidas.

As urnas revelaram nesta 2ª feira que os italianos preferem Berlusconi ao tecnocrata querido dos mercados.

Na zona do euro, à exceção da Alemanha, a economia tornou-se uma usina de pobreza, êxodo, despejos, fome e demissões.

Nos EUA as grandes corporações tem quase US$ 1 trilhão em caixa, mas o desemprego não encoraja investimemtos.

Antes da implosão neoliberal, o fluxo financeiro das corporações somava um déficit equivalente a 3,7% do PIB.

Agora, acumula um superávit de aproximadamente 5% dele.

O dinheiro ocioso queima como batata quente.

Não há muito o que fazer com ele.

A taxa de juros é negativa; as bolsas de commodities andam de lado.

A mais lenta recuperação do nível de emprego da história das recessões norte-americanas faz o resto.

Não há razões para ampliar capacidade produtiva quando a demanda rasteja sob o peso de 8% de taxa de desemprego.

Uma anemia que promete resistir por muito tempo.

Mesmo quem trabalha empobreceu.

O patrimônio das famílias perdeu mais de um terço do valor na recessão.

Quase 90% das riquezas geradas no período seguinte foram drenadas para 1% da população.

Para o caixa das grandes corporações,em especial, onde ardem como batata quente.

A queimadura pode se agravar.

A ortodoxia republicana dobra a aposta no veneno: cobra de Obama o corte de US$ 100 bi em gastos fiscais.

A partir de março.

Outro facão deve decepar mais US$ 1,2 trilhão até o final da década, 'para ajustar as contas do Estado'.

Na jaula pequena da estagnação o que mais prospera é o canibalismo.

A onda de fusões e aquisições em marcha reflete o estreito repertório de opções para o dinheiro graúdo.

Grandes corporações se vampirizam na luta de conquista pela liderança dos mercados quando a crise acabar.

Os avanços tecnológicos compõem a outra jugular em disputa.

Invenções e saltos tecnológicos permitem roubar demanda velha no mercado estagnado. E capturar demanda fresca nas nações em desenvolvimento.

No euro ou nos EUA, o cachorro morde o próprio rabo.

Obama quer regenerar o tônus da economia injetando-lhe alguma expansão de demanda.

Elevando o salário mínimo, por exemplo, dos atuais US$ 7,25 por hora para US$ 9/h.

Há razões sólidas para isso:

a) nos últimos 40 anos de supremacia neoliberal, o piso salarial norte-americano foi corrigido abaixo da inflação;

b) a atual capacidade de compra do salário mínimo nos EUA é inferior a que existia nos anos 60.

Entende-se por que a crise escava o fundo do abismo. Ele já havia se instalado no metabolismo da sociedade há décadas.

Falcões republicanos dão de ombros e insistem: a chave é o corte do gasto público.

Como se os mercados pudessem se erguer pelos próprios cabelos.

À margem da demanda agregada; sem consumo ou investimento.Público ou privado.

O ambiente internacional carrega assustadora transparência.

Serviria como antídoto ao clamor ortodoxo que prescreve o mesmo óleo de rícino para os desafios do Brasil.

Mas a vacina não age.

Os canais de transmissão do debate seccionam as interações entre o noticiário internacional e os acontecimentos locais.

A economia brasileira emite sinais contraditórios.

Vive-se um momento decisivo.

O investimento ainda se arrasta.

Mas o vigor persistente da demanda e as medidas de incentivo do governo esboçam uma retomada que o jogral conservador quer abortar.

A qualquer preço.

Como se o país que arrastou mais de 50 milhões de cidadãos para fora da pobreza e criou um dos mercados de massa mais pujantes do planeta, pudesse se desfazer desse trunfo agora e dizer:

"Senhoras e senhores, a viagem acabou; aguardem no meio-fio até passar o próximo bonde da história”.

A viabilidade política dessa baldeação regressiva é zero.

Mas falta o debate consequente que liberte o próprio governo dos termos da equação imposta pela ortodoxia: ou mais inflação, ou menos crescimento.

Falta o governo livrar-se da 'síndrome de Estocolmo' em relação à mídia dominante. E entender que a informação (plural) é um ingrediente tão importante de um ciclo de desenvolvimento quanto a queda dos juros.

 
Por Saul Leblon na Carta Maior

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Sobre votos e democracía

Daniel Paz & Rudy

Partido e governo

Discrepância. Os governantes foram fiéis aos planos iniciais. O partido nem tanto
Discrepância. Os governantes foram fiéis aos planos iniciais.
 O partido nem tanto. Foto: B. Salgado/ Estadão Conteúdo
A ideia do PT já se fixava na cabeça de Lula quando o entrevistei pela primeira vez no começo de 1978. Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, representava a vanguarda de um movimento operário em plena mudança. A reforma partidária engendrada pelo Merlin do Planalto, Golbery do Couto e Silva, na segunda metade de 1979, facilitou-lhe a tarefa.
Singular personagem, Golbery. Única, a seu modo. Fiel do maniqueísmo da Guerra Fria, inventou a ideologia destinada a sustentar o golpe de 1964, estranhamente impregnada por um pretenso, e de fato impossível, propósito democrático. Foi retirado da cena com o fim do curto mandato bienal de Castelo Branco, e só voltou ao governo no período de Ernesto Geisel. Partiu para a demolição do regime que contribuíra a criar, “lenta, gradual, porém segura”, sem que o próprio Geisel tivesse clara noção a respeito.
 
Enredo singular como a personagem. Mantido na chefia da Casa Civil por Figueiredo, Golbery deu prosseguimento ao seu plano, primeiro com uma anistia ardilosa que não foi “ampla, geral e irrestrita”, depois com a reforma partidária, cujo objetivo era estilhaçar a oposição reunida no MDB do doutor Ulysses, subitamente capacitado a se aproveitar daquelas pretensões democráticas e, a despeito de pressões, ameaças e riscos, a desempenhar um digno e importante papel.
 
De todo modo, a entrevista de Lula publicada na edição da primeira semana de fevereiro de 1978, deixou Golbery impressionado e muito interessado nos movimentos do astro nascente. Quando Lula ficou preso durante a greve do ABC de 1980, nas dependências do Dops, o mago planaltino enviou a São Paulo dois cavalheiros engravatados com a incumbência de entrevistar o preso no tom de uma conversa de amigos, peripatética, mas sutilmente inquisitiva. Apresentavam-se como subordinados do “cacique”, não melhor especificado, e queriam saber das ideias e tendências políticas do líder metalúrgico.
 
Golbery sairia do governo em agosto de 1981, em consequência das bombas do Riocentro e da tentativa de Figueiredo e de Octavio Medeiros de emperrar, se possível de vez, o processo de abertura. Da reforma eleitoral resultaram o PMDB de Ulysses, o PP de Tancredo Neves, o PDT de Brizola, a quem a legenda tradicional, PTB, fora sumariamente furtada para ser entregue a Ivete Vargas. E o PT de Lula, que dia 20 deste fevereiro celebrou dez anos de governo.
 
Longa caminhada, de êxito total. A busca do poder é o alvo de qualquer partido e se eleições fossem convocadas hoje, é mais do que certo que o PT continuaria folgadamente onde se encontra. Como dizia Raymundo Faoro, “eles querem um país de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”. Referia-se aos senhores da casa-grande. O governo Lula e agora o de Dilma Rousseff empenharam-se e se empenham para que os milhões se multipliquem às dezenas. E, quanto ao eleitorado, colhem os frutos de sua ação.
 
É do conhecimento até do mundo mineral que o Brasil progrediu nos últimos dez anos como jamais se dera na sua história, e fique claro que na sua desfaçatez, na sua parvoíce, na sua hipocrisia, a mídia nativa situa-se, queira ou não, em estágio anterior ao mundo mineral. Quem sabe, o magma primevo.
 
Não evito a seguinte consideração. Uma peculiar discrepância instala-se, na minha visão, entre partido e governo. O PT nasceu à sombra de um ideário político de franco esquerdismo, afinado com os tempos, no Brasil e no mundo. Sobretudo no Brasil, entregue à ditadura. Ao amadurecer, o partido soube adaptar-se às mudanças globais. Hoje pergunto aos meus meditativos botões se os avanços dos últimos dez anos se devem ao PT ou aos governos Lula e Dilma.
 
Governos do PT? Meus botões não são de cautelas, afirmam: mérito dos governantes, além do mais forçados a alianças nem sempre aprazíveis, a bem da governabilidade. Lula, divisor de águas. Dilma, firme continuadora. À época do surgimento do PT, imaginei um grande, versátil, inteligente partido de esquerda, capaz de produzir mudanças profundas sem maiores conflitos, como se deu em outros cantos do mundo, onde anéis saem dos dedos graúdos somente sob pressão.
 
O PT não foi essa agremiação ideal, e muitas vezes portou-se como as demais. E muitas vezes ofereceu munição de graça à feroz obsessão da casa-grande. E muitas vezes exibiu inúteis divergências intestinas, a lhe exibirem a fragilidade, quando não a má-fé. E muitas vezes levou a cargos de governos quem não merecia. É a voz dos meus botões.
 
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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

PT: A idade da razão

Quando a luta contra o arrocho salarial mesclou-se à saturação nacional contra a ditadura,nos anos 70, os metalúrgicos souberam ir além dos limites corporativos.

Assumiram a liderança de uma nova agenda histórica.

Desse impulso divisor nasceria o PT, há 33 anos.

A série de 13 debates que o Partido inicia nesta 4ª feira, a partir de São Paulo, com a presença de Lula e Dilma, para em seguida inaugurar um circuito nacional, pretende consolidar o inventário desse período, 1/3 do qual no comando do país.

A rememoração é necessária.

Ela ocorrerá previsivelmente sob outros pontos de vista.

O colunismo bicudo, as manchetes especializadas nas adversativas, cuidarão de transformar o aniversário em necrológio.

O PT tem razões para acionar contrafogos. Mas seria crucial que não ficasse apenas nisso.

Seria precioso que surpreendesse indo além da reflexão de legítima defesa.

Os avanços em si são tão conhecidos quanto a contrapartida da desqualificação que os acompanha. À direita, disparada por um conservadorismo que os nega.
À esquerda , por visões --muitas delas legítimas-- determinadas a instigar o debate progressista, sublinhando a insuficiência do patamar atingido.

O conjunto mais reafirma do que dissipa o essencial.

Os deslocamentos sócio-econômicos e geopolíticos acumulados na década de governo do PT, assim como os erros e hesitações que possam ser computados ao partido, compõem um novo e largo mirante da história brasileira.

O futuro que hoje se coloca na mesa do presente carrega intrínsecas condicionalidades progressistas.

Elas não existiriam tivesse o Brasil dos últimos dez anos sido governado pela coagulação conservadora que agora tenta desqualificar Lula, Dilma e respectivos governos.

Um dado resume todos os demais: sendo ainda uma das sociedades mais iníquas do planeta (apenas sete nações ostentam pior distribuição de renda) o Brasil é hoje o país menos desigual de toda a sua história.

Não é necessário endossar o trajeto de um resgate social inconcluso para reconhecer o degrau alcançado.

O ressentimento conservador, em permanente flerte com a oportunidade de uma elipse institucional, confirma o adágio de Lênin: 'política é economia concentrada'.

A agenda política da direita regurgita diuturnamente a intolerância de classe a um governo que não pode ser chamado integralmente de seu.

Ainda que seu sejam muitos dos cargos, recursos, políticas e limites espetados na relação de forças que compõe o coração de qualquer governo de coalizão.

O conservadorismo local e forâneo quer Lula e o PT longe de Brasília.

Não apenas pela bagagem dos avanços sociais e econômicos que faíscam na festa de aniversário do partido.

Mas pelo risco de que o 'inconcluso e insuficiente' possa gerar massa crítica de um novo salto, de repercusão histórica semelhante ao original. Agora em escala ampliada.

O medo de classe ajuda a entender a permannte conspiração de uma plutocracia que se lambuzou em caldas doces no ciclo recente e até há pouco.

Banhou-se confortavelmente nos últimos anos no cofre forte rentista onde a sociedade depositou o equivalente a 5% do PIB ao ano, referente aos juros da dívida pública.

O dízimo da governabilidade, diziam os mais condescendentes com a sangria asfixiante, foi reduzido de forma substancial em 2012.

A perspectiva de injeções declinantes nesse tanque do Tio Patinhas, mesmo associada a opções de investimentos em infraestrutura, até mais rentáveis, inquieta os detentores do dinheiro grosso.

Da ganância rentista com seu imenso aparato vocalizador partem os principais disparos que ameaçam o passo seguinte do ciclo histórico que agora fecha um balanço de 33 anos, 1/3 deles no governo da nação.

Um número para resumir o calibre do impasse.

O Brasil precisa investir algo como R$ 130 bi por ano. É o requisito para continuar gerando emprego, renda e receita capaz de ampliar e qualificar a rede pública de educação, a de saúde, transportes, pesquisas etc

O dinheiro existe.

Até hoje engordou ocioso no pasto financeiro da dívida pública. Pronto para o abate líquido quando for esse o interesses de seus detentores. Sem ônus, nem risco.

O pasto raleou substancialmente com as podas feitas por Dilma na Selic, em 2012.

Mas a obsessão mórbida pela liquidez não serenou a qualidade e o tamanho de apetite.

Ao contrário.

O ventre gordo tem sido instigado a apostar no fracasso das restrições impostas ao capital a juros.

O tambor sombrio não cessa de emitir vaticínios e alertas.

Vai ter apagão; a inflação descambou; o PAC travou; a Petrobrás quebrou; Gurgel vai 'pegar' Lula; Eduardo e Aécio vem aí --e, claro, a Marina também.

Não importam os fatos.

A intenção é sinalizar a chance de uma volta redentora dos professores banqueiros ao poder, em 2014.

Estes não se fazem de rogados.

Diretamente, ou por intermédio de porta-vozes credenciados no jornalismo econômico, eles confirmam as intenções futuras, ao clamar pela alta dos juros já no presente.

Apascentam as incertezas rentistas com o feno amargo das expectativas voláteis.

Quem toparia colocar capital em projetos de longa maturação com uma neblina dessa espessura?

Private banks, contas especiais que administram grandes fortunas no país, tem sob seu piquete uns R$ 500 bilhões.

Dinheiro coagulados pela guerra política que condiciona a engrenagem econômica.Ruminando indecisão.

Quase cinco anos do investimento pesado que o Brasil precisa fazer para avançar a caminhada da última década.

Os 33 anos rememorados a partir desta 4ª feira guardam algo do impulso original capaz de romper esse novo ardil conservador?

Os desafios e a relação de forças distintos.

Mas em certa medida até mais favoráveis agora que os dos anos 70/80.

Existe maior abrangência e capilaridade progressista; o Estado, bem ou mal, tem recorte democrático. A supremacia neoliberal esfarelou-se.

Acima de tudo: os ingredientes e a escala da relação de forças modificaram-se.

Para melhor.

Entraram no jogo 50 milhões de brasileiros que ascenderam socialmente através das políticas públicas implantadas desde 2003.

Exceto em breves intervalos de disputa eleitoral , porém, essa paleta de forças e interesses quase nunca se mobilizou de forma coordenada e contundente.

Em certa medida, é como se o PT desconhecesse o real alcance do protagonista político mais importante que ajudou a revelar.

Essa omissão argui a responsabilidade histórica do partido que atinge a idade da razão.

É viável enfrentar as contradições e conflitos de um ciclo de desenvolvimento como o do Brasil atual, sem estreitar os canais de organização e comunicação com a principal força capaz de assegurar a continuidade e a coerência do processo?

A ver.
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Como participar dos debates do PT

Petistas e simpatizantes que têm interesse no ato podem se credenciar por meio do seguinte endereço eletrônico:

sorg.secretaria@pt.org.br.

É importante escrever no campo assunto a seguinte frase: “Credenciamento para ato dos 10 anos do PT no Governo Federal”.

Vagas são limitadas em função da capacidade de lotação.

Blogueiros
O PT-SP vai disponibilizar um código para retransmissão do link.
Interessados em rebater o material devem informar nome, telefone para contato e blog que representa nos seguintes e-mails:
jornalismo@pt-sp.org.br e imprensa@pt-sp.org.br.
No campo assunto deve estar discriminado: Credenciamento Blogueiros – 10 anos de PT no Governo Federal.

Imprensa

O credenciamento deve ser feito por meio do endereço corporativos dos veículos de comunicação e conter: nome, telefone para contato e veículo que representa.
Enviar para os e-mails:
jornalismo@pt-sp.org.br e imprensa@pt-sp.org.br. Credenciamento Imprensa: 10 anos do PT no Governo Federal deve constar no assunto da mensagem.

Serviço:

10 Anos de Governo Popular e Democrático do PT
Quando: 20 de fevereiro
Horário: 18 horas
Local: Hotel Holiday Inn Parque Anhembi



Por Saul Leblon no Blog das Frases

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Rede Sustentabilidade - "Nem oposição, nem situação"

Foto: Pedro Ladeira/AFP
Marina Silva apresentou a Rede Sustentabilidade neste sábado 16.
Foto: Pedro Ladeira/AFP
A ex-senadora Marina Silva lançou neste sábado 16, em Brasília, a Rede Sustentabilidade, nome oficial de seu novo partido. A futura legenda, que deve ser a plataforma para a candidatura da ambientalista à Presidência em 2014, defenderá apenas alianças pontuais com os demais partidos. “Nem oposição, nem situação”, disse Marina.
Segundo ela, a Rede vai apoiar a presidenta Dilma Rousseff apenas se a administração da petista “estiver fazendo algo bom”. “Parece ingênuo, mas não tem nada de ingênuo.”
 
Antes, o partido precisa reunir 500 mil assinaturas até setembro para sair do papel. O movimento para atingir essa meta deve começar na segunda-feira 18 com a ajuda da internet e de colaboradores nos estados.
 
Ainda sem a legenda garantida oficialmente, a ambientalista evitou confirmar uma nova candidatura ao Planalto. Apesar de ter recebido 20 milhões de votos em 2010, a ex-ministra do Meio Ambiente enxerga a disputa como uma “possibilidade” em “discussão. “É uma possibilidade. Mas por enquanto apenas uma possibilidade.”
 
Marina Silva também não sabe se vai concorrer caso seu partido não seja concluído a tempo. Mas rebateu comentários de que a Rede estaria cassando parlamentares para sua base. “Não estamos fazendo tudo para ter bancada. As pessoas virão por identidade com o programa e por coerência com as regras da Rede.”
 
Partido para mais que eleições
O lançamento foi comentado pelo ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, que enviou uma mensagem gravada. Segundo ele, Marina Silva é uma figura importante para ajudar na “modernização da vida política do Brasil”.
 
Marina ainda destacou que partido não foi criado apenas para disputar eleições, mas “para questionar a si próprio”. A legenda foi fundada por ela, três deputados federais e três vereadores, entre eles a ex-senadora Heloísa Helena (AL), que vai ingressar a Rede.
Os deputados Domingos Dutra (PT-MA), Walter Feldman (PSDB-SP) e Alfredo Sirkis (PV-RJ) também estão de mudança para a sigla.
 
Estatuto
As regras internas do partido ainda não estão totalmente definidas, mas há discussões para limitar a 16 anos o tempo dos mandatos por parlamentar eleito. Eles poderiam concorrer a apenas uma reeleição.
 
O partido vetou o recebimento de doações de empresas de bebidas alcoólicas, cigarros, armas e agrotóxicos e pretende avaliar seus candidatos a membro pelos critérios da Lei da Ficha Limpa.
 
Há também a ideia de oferecer até 30% do total de vagas nas eleições proporcionais para candidaturas civis independentes, conduzidas por pessoas não filiadas e sem vínculos partidários.
 
Leia mais na Carta Capital

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A história secreta da renúncia de Bento XVI

Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Paris.

 
Paris - Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar em março passado, depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba. Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro. O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas.

Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas. Bento XVI foi, como assinala Philippe Portier, um continuador da obra de João Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando vários textos importantes que redigiu: a condenação das teologias da libertação dos anos 1984-1986; o Evangelium vitae de 1995 a propósito da doutrina da igreja sobre os temas da vida; o Splendor veritas, um texto fundamental redigido a quatro mãos com Wojtyla”. Esses dois textos citados pelo especialista francês são um compêndio prático da visão reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas do mundo moderno.

O Monsenhor Georg Gänsweins, fiel secretário pessoal do papa desde 2003, tem em sua página web um lema muito paradoxal: junto ao escudo de um dragão que simboliza a lealdade o lema diz “dar testemunho da verdade”. Mas a verdade, no Vaticano, não é uma moeda corrente. Depois do escândalo provocado pelo vazamento da correspondência secreta do papa e das obscuras finanças do Vaticano, a cúria romana agiu como faria qualquer Estado. Buscou mudar sua imagem com métodos modernos. Para isso contratou o jornalista estadunidense Greg Burke, membro da Opus Dei e ex-integrante da agência Reuters, da revista Time e da cadeia Fox. Burke tinha por missão melhorar a deteriorada imagem da igreja. “Minha ideia é trazer luz”, disse Burke ao assumir o posto. Muito tarde. Não há nada de claro na cúpula da igreja católica.

A divulgação dos documentos secretos do Vaticano orquestrada pelo mordomo do papa, Paolo Gabriele, e muitas outras mãos invisíveis, foi uma operação sabiamente montada cujos detalhes seguem sendo misteriosos: operação contra o poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone, conspiração para empurrar Bento XVI à renúncia e colocar em seu lugar um italiano na tentativa de frear a luta interna em curso e a avalanche de segredos, os vatileaks fizeram afundar a tarefa de limpeza confiada a Greg Burke. Um inferno de paredes pintadas com anjos não é fácil de redesenhar.

Bento XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas são tais que, uma vez tornada pública sua renúncia, os tradicionalistas da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a figura do Papa. Não é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu consistiu em suprimir as sanções canônicas adotadas contra os partidários fascistóides e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e, por conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as ditaduras de ultradireita do mundo.

Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob seu reinado”. E a primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira. O Vaticano é um tenebroso gestor de dinheiro e muitas das querelas que surgiram no último ano têm a ver com as finanças, as contas maquiadas e o dinheiro dissimulado. Esta é a herança financeira deixada por João Paulo II, que, para muitos especialistas, explica a crise atual.

Em setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi para o posto de presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano. Próximo à Opus Deis, representante do Banco Santander na Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação da encíclica social e econômica Caritas in veritate, publicada pelo papa Bento XVI em julho passado. A encíclica exige mais justiça social e propõe regras mais transparentes para o sistema financeiro mundial. Tedeschi teve como objetivo ordenar as turvas águas das finanças do Vaticano. As contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro cujas origens mais conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo norteamericano Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente do IOR e máximo responsável pelos investimentos do Vaticano na época.

João Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para evitar a prisão e salvá-lo da cadeia. Não é de se estranhar, pois devia muito a ele. Nos anos 70, Marcinkus havia passado dinheiro “não contabilizado” do IOR para as contas do sindicato polonês Solidariedade, algo que Karol Wojtyla não esqueceu jamais. Marcinkus terminou seus dias jogando golfe em Phoenix, em meio a um gigantesco buraco negro de perdas e investimentos mafiosos, além de vários cadáveres. No dia 18 de junho de 1982 apareceu um cadáver enforcado na ponte de Blackfriars, em Londres. O corpo era de Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano. Seu aparente suicídio expôs uma imensa trama de corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçônica Propaganda 2 (mais conhecida como P-2), dirigida por Licio Gelli e o próprio IOR de Marcinkus.

Ettore Gotti Tedeschi recebeu uma missão quase impossível e só permaneceu três anos a frente do IOR. Ele foi demitido de forma fulminante em 2012 por supostas “irregularidades” em sua gestão. Tedeschi saiu do banco poucas horas depois da detenção do mordomo do Papa, justamente no momento em que o Vaticano estava sendo investigado por suposta violação das normas contra a lavagem de dinheiro. Na verdade, a expulsão de Tedeschi constitui outro episódio da guerra entre facções no Vaticano. Quando assumiu seu posto, Tedeschi começou a elaborar um informe secreto onde registrou o que foi descobrindo: contas secretas onde se escondia dinheiro sujo de “políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado”. Até Matteo Messina Dernaro, o novo chefe da Cosa Nostra, tinha seu dinheiro depositado no IOR por meio de laranjas.

Aí começou o infortúnio de Tedeschi. Quem conhece bem o Vaticano diz que o banqueiro amigo do papa foi vítima de um complô armado por conselheiros do banco com o respaldo do secretário de Estado, Monsenhor Bertone, um inimigo pessoal de Tedeschi e responsável pela comissão de cardeais que fiscaliza o funcionamento do banco. Sua destituição veio acompanhada pela difusão de um “documento” que o vinculava ao vazamento de documentos roubados do papa.

Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos: corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se autoalimentam, o Vaticano não é mais do que um reflexo pontual e decadente da própria decadência do sistema.


Tradução: Katarina Peixoto
Na Carta Maior

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Promotora boquirrota

Não é caricatura; é natural!
O que mais me impressionou nessa história não foi o reacionarismo da promotora em questão - há muito venho dizendo que o Ministério Público, com seus quadros repletos de concurseiros profissionais oriundos da classe média, está se transformando num playground de jovens arrumadinhos absolutamente descolados da realidade.
 
O que me impressionou foi o ódio de classe e o baixíssimo nível de uma promotora responsável por um processo que envolve estudantes sob risco de privação de liberdade.
Em um dos tuítes, Eliana Passarelli diz que "o PT é bem pior que a ditadura (militar) brasileira, mais de (sic) Chavez e Cuba junto (sic)!".
 
Ou seja, trata-se de uma promotora de mais de 40 anos (a julgar pela foto) que é incapaz de fazer uma avaliação histórica minimamente plausível, sem falar no português bisonho.
 
E covarde. Flagrada em um acesso de verborragia no twitter, primeiro mentiu, dizendo que não tinha conta. Depois, sorrateiramente, tirou a conta do ar.
 
Vamos ver o que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), presidido pelo probo Roberto Gurgel, irá fazer a respeito, depois do carnaval.
 
No Amoral Nato
Pescado no Com TextoLivre

Zé Serra, versão argentina

Daniel Paz & Rudy

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Bento XVI: Dinheiro, poder e sabotagens. Corrupção, espionagem, escândalos sexuais.


Dinheiro, poder e sabotagens. Corrupção, espionagem, escândalos sexuais.

A presença ostensiva desses ingredientes de filme B no noticiário do Vaticano ganhou notável regularidade nos últimos tempos.

A frequência e a intensidade anunciavam algo nem sempre inteligível ao mundo exterior: o acirramento da disputa sucessória de Bento XVI nos bastidores da Santa Sé.

Desta vez, mais que nunca, a fumaça que anunciará o 'habemus papam' refletirá o desfecho de uma fritura política de vida ou morte entre grupos radicais de direita na alta burocracia católica.

Mais que as razões de saúde, existiriam razões de Estado que teriam levado Bento XVI a anunciar a renúncia de seu papado, nesta 2ª feira.

A verdade é que a direita formada pelos grupos 'Opus Dei' (de forte presença em fileiras do tucanato paulista), 'Legionários' e 'Comunhão e Libertação' (este último ligado ao berlusconismo) já havia precipitado fim do seu papado nos bastidores do Vaticano.

Sua desistência oficializa a entrega de um comando de que já não dispunha.

Devorado pelos grupos que inicialmente tentou vocalizar e controlar, Bento XVI jogou a toalha.

O gesto evidencia a exaustão histórica de uma burocracia planetária, incapaz de escrutinar democraticamente suas divergências. E cada vez mais afunilada pela disputa de poder entre cepas direitistas, cuja real distinção resume-se ao calibre das armas disponíveis na guerra de posições.

Ironicamente, Ratzinger foi a expressão brilhante e implacável dessa engrenagem comprometida.

Quadro ecumênico da teologia, inicialmente um simpatizante das elaborações reformistas de pensadores como Hans Küng (leia seu perfil elaborado por José Luís Fiori, nesta pág.), Joseph Ratzinger escolheu o corrimão da direita para galgar os degraus do poder interno no Vaticano.

Estabeleceu-se entre o intelectual promissor e a beligerância conservadora uma endogamia de propósito específico: exterminar as ideias marxistas dentro do catolicismo.

Em meados dos anos 70/80 ele consolidaria essa comunhão emprestando seu vigor intelectual para se transformar em uma espécie de Joseph McCarty da fé.

Foi assim que exerceu o comando da temível Congregação para a Doutrina da Fé.

À frente desse sucedâneo da Santa Inquisição, Ratzinger foi diretamente responsável pelo desmonte da Teologia da Libertação.

O teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos intelectuais mais prestigiados desse grupo, dentro e fora da igreja, esteve entre as suas presas.

Advertido, punido e desautorizado, seus textos foram interditados e proscritos. Por ordem direta do futuro papa.

Antes de assumir o cargo supremo da hierarquia, Ratzinger 'entregou o serviço' cobrado pelo conservadorismo.

Tornou-se mais uma peça da alavanca movida por gigantescas massas de forças que decretariam a supremacia dos livres mercados nos anos 80; a derrota do Estado do Bem Estar Social; o fim do comunismo e a ascensão dos governos neoliberais em todo o planeta.

Não bastava conquistar Estados, capturar bancos centrais, agências reguladoras e mercados financeiros.

Era necessário colonizar corações e mentes para a nova era.

Sob a inspiração de Ratzinger, seu antecessor João Paulo II liquidou a rede de dioceses progressistas no Brasil, por exemplo.

As pastorais católicas de forte presença no movimento de massas foram emasculadas em sua agenda 'profana'. A capilaridade das comunidades eclesiais de base da igreja foi tangida de volta ao catecismo convencional.

Ratzinger recebeu o Anel do Pescador em 2005, no apogeu do ciclo histórico que ajudou a implantar.

Durou pouco.

Três anos depois, em setembro de 2008, o fastígio das finanças e do conservadorismo sofreria um abalo do qual não mais se recuperou.

Avulta desde então a imensa máquina de desumanidade que o Vaticano ajudou a lubrificar neste ciclo (como já havia feito em outros também).

Fome, exclusão social, desolação juvenil não são mais ecos de um mundo distante. Formam a realidade cotidiana no quintal do Vaticano, em uma Europa conflagrada e para a qual a Igreja Católica não tem nada a dizer.

Sua tentativa de dar uma dimensão terrena ao credo conservador perdeu aderência em todos os sentidos com o agigantamento de uma crise social esmagadora.

O intelectual da ortodoxia termina seu ciclo deixando como legado um catolicismo apequenado; um imenso poder autodestrutivo embutido no canibalismo das falanges adversárias dentro da direita católica. E uma legião de almas penadas a migrar de um catolicismo etéreo para outras profissões de fé não menos conservadoras, mas legitimadas em seu pragmatismo pela eutanásia da espiritualidade social irradiada do Vaticano.
 
Por Saul Leblon. Leia mais na Carta Maior

Habemus Papam

domingo, 10 de fevereiro de 2013

PT, 33 anos depois: como anda o lado esquerdo do peito?

Foto: Colégio Sion, SP, 10 de fevereiro de 1980; a fundação do Partido dos Trabalhadores
 
 
 
'A Nação é o povo e o Estado a sua expressão'
"Os trabalhadores querem a independência nacional. Entendem que a Nação é o povo e, por isso, sabem que o País só será efetivamente independente quando o Estado for dirigido pelas massas trabalhadoras. É preciso que o Estado se torne a expressão da sociedade, o que só será possível quando se criarem as condições de livre intervenção dos trabalhadores nas decisões dos seus rumos. Por isso, o PT pretende chegar ao governo e à direção do Estado para realizar uma política democrática, do ponto de vista dos trabalhadores, tanto no plano econômico quanto no plano social.
 
O PT buscará conquistar a liberdade para que o povo possa construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados e nem exploradores. O PT manifesta sua solidariedade à luta de todas as massas oprimidas do mundo."
(Manifesto de fundação do PT, no Colégio Sion, em São Paulo, em 10 de fevereiro de 1980. As primeiras fichas de filiação do partido seriam assinadas por Apolonio de Cavalho, Mário Pedrosa, Antonio Candido e Sergio Buarque de Hollanda)


'O socialismo petista pressupõe a socialização da política'
”A vitória eleitoral do nosso candidato em 2002 levou o PT para o
governo, e o Partido passou a viver a experiência de ser Governo num
país capitalista, numa sociedade de classes, em que o poder não é só o
político, mas também o poder econômico, o da mídia e o militar.

O sonho de uma nova sociedade, superior à ordem capitalista vigente,
diante das enormes tarefas de ser governo, levou a que nossos militantes,
dirigentes e líderes maiores tomassem consciência de que a conquista
de uma Nação soberana e democrática é parte integrante da luta pelo
socialismo em nosso país.

Nesse sentido, as realizações do primeiro mandato do Presidente Lula e as que vêm ocorrendo neste segundo, no tocante à realização das tarefas democráticas e de defesa de nossa soberania são um importante
passo para a acumulação de forças que vai permitir construir não só
um Brasil socialmente justo, mas também independente e democrático.

"Para o socialismo petista a democracia não é apenas um instrumento
de consecução da vontade geral, da soberania popular.

Ela é também um fim, um objetivo e um valor permanente de nossa ação política.

O socialismo petista é radicalmente democrático porque exige a
socialização da política.

Isso implica na extensão da democracia a todos e na articulação das liberdades políticas - individuais e coletivas - com os direitos econômicos e sociais.

O socialismo petista pressupõe a construção de uma nova economia em que convivam, harmonicamente, crescimento com distribuição de
renda.

Para tanto, é fundamental reabilitar o papel do Estado no
planejamento democrático da economia.

O socialismo petista admite a coexistência de várias formas de propriedade: estatal, pública não estatal, privada, cooperativas e formas de economia solidária.

No caso brasileiro ganha especial importância o aprofundamento da reforma agrária e a relação a ser estabelecida entre a agricultura familiar e a agricultura de caráter empresarial [...].

O socialismo petista compreende que os recursos naturais não podem
ser apropriados sob regime de propriedade privada, mas sim de forma
coletiva e democrática, em sintonia com o meio ambiente e solidária
com as futuras gerações".
(III Congresso Nacional do PT; 2007)

Crise desloca a liderança da esquerda para a América Latina
"A esquerda dos países europeus, que tanto influenciou a esquerda mundial
desde o século 19, não conseguiu dar respostas adequadas à crise e parece
capitular ao domínio do neoliberalismo.

Por isso, há hoje um deslocamento geográfico de liderança ideológica da esquerda no mundo. Neste contexto, a América do Sul agora se destaca.

Depois de ter passado por estagnação e forte inflação nas décadas perdidasʼ de 1980 e 90, e de seus governos aderirem à onda neoliberal, eis que despertou na década de 2000 para uma outra política, progressista e de forte conteúdo social.

A luta da esquerda latino-americana contra as ditaduras militares fez dos valores democráticos parte integrante essencial nesta promoção de cidadania e soberania.

Neste cenário de crise mundial, cabe ao Partido dos Trabalhadores, bem
como às demais forças de esquerda do Brasil e da América Latina,
aprofundar seu compromisso com outra visão de mundo e com outro modelo de desenvolvimento, reafirmando a defesa da construção do socialismo.(...)

A crise do neoliberalismo expressa sua incapacidade de responder aos desafios
sociais há muito tempo postos pelo socialismo, mas também aos desafios
ambientais de que o mundo adquiriu consciência nas últimas décadas.

A dimensão ambiental desta crise internacional do capital é dramática, pelo
fortíssimo impacto da desregulamentação do capital nos recursos naturais do
planeta e dos países do hemisfério Sul, em particular.

Cada dia mais, a reflexão sobre nosso projeto de desenvolvimento no Brasil deve incorporar a dimensão da sustentabilidade ambiental, sem o que repetiremos os equívocos denunciados no 3º. Congresso Nacional do PT em certas tradições desenvolvimentistas de países capitalistas e do socialismo real.

O Brasil, tanto por sua imensa diversidade natural, quanto pelos compromissos que de forma soberana e unilateral assumiu perante a comunidade internacional, não tratará a questão ambiental como apêndice, senão como parte essencial, de seu projeto de desenvolvimento.

Como socialistas democráticos, queremos uma alternativa de civilização ao capitalismo, a ser construída democraticamente com o povo brasileiro, que esteja à altura de sua dignidade e de sua esperança, que promova a liberdade para todos, a soberania popular em regime de pluralismo, que universalize a condição plena e em igualdade dos cidadãos e das cidadãs, que seja multiétnica, que seja solidária com todos os povos oprimidos do mundo, que saiba construir novos modos de organizar a vida social para além da mercantilização do capital, da exploração social e da predação da natureza.

Um tal programa de civilização requer a construção histórica de um novo
Estado democrático, republicano e popular no Brasil.

Esta conquista só é possível em um quadro de um amplo e profundo ascenso dos partidos de esquerda, progressistas e democráticos, e dos movimentos sociais.

Este ascenso apoia-se no fortalecimento estrutural das classes trabalhadoras e de seus direitos, promove a formação de uma maioria eleitoral sob a liderança da esquerda, dinamiza a formação de uma consciência pública afim aos valores do socialismo democrático, e, por fim, constrói uma rede de comunicação social capaz de expressar e dar voz pública plural a este bloco histórico.

É este programa que orienta o nosso diálogo com o povo brasileiro sobre o
sentido das transformações que os governos Lula e o governo Dilma estão
promovendo, suas conquistas históricas e seus limites - o que fomos
capazes de construir e a longa caminhada que ainda temos pela frente.

(IV Congresso do PT; 2011)
Texto do Saul Leblon

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Mas como é possível que Dilma Rousseff tenha índices de aprovação elevadíssimos e sofra ao mesmo tempo o ataque maciço da mídia?”

Nos seus derradeiros momentos como senador, Fernando Henrique Cardoso andava pelos corredores do Congresso acompanhado por Norberto Bobbio. Digo, carregava um ensaio do pensador italiano, a analisar um assunto veementemente provocado pela queda do Muro de Berlim: ainda vale falar de direita e esquerda?
Solidão. Às vezes a presidenta que pretende erradicar a miséria parece isolada. Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Adicion
Solidão. Às vezes a presidenta que pretende erradicar a miséria parece isolada.
 Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
A direita mundo afora decretava o fim das ideologias, -enquanto a esquerda mostrava-se reticente. Bobbio entrou em cena e afirmou: nada disso, a dicotomia não se apaga, seria como pretender negar o bem e o mal, a luz e a sombra, a verdade e a mentira. E a verdade, no caso, é outra.
 
A tese de Bobbio pode ser resumida na seguinte ideia: é automática e naturalmente de esquerda quem se preocupa com os destinos dos desvalidos do mundo e se empenha pela igualdade. Recordam? Liberdade, igualdade, fraternidade. A liberdade por si só não basta à democracia, a igualdade é fundamental. Quanto à fraternidade talvez seja admissível substituí-la pela solidariedade.
 
A julgar pelo desvelo de ponta de dedos com que FHC carregava o livrinho (ia escrever, sobraçava, mas a obra é de porte modesto) me entreguei à suposição de que o futuro presidente da República rendia-se de bom grado aos argumentos do autor, a confirmar crenças pregressas. No entanto, pouco tempo após, soletraria: esqueçam o que eu disse.
 
À sombra de FHC presidente, o PSDB tornou-se um partido de direita. Em lugar de abrandá-las, acentuou as disparidades ao aderir à religião neoliberal e sujeitar-se às vontades e interesses do Tio Sam. Sem contar a bandalheira da privataria, a compra dos votos a favor da reeleição e o “mensalão” tucano.
 
Ao entrevistar o presidente Lula no fim de 2005, pergunto se ele é de esquerda, responde nunca ter sido. “Você sabe disso”, diz, ao recordar os velhos tempos em que nos conhecemos, já faz 36 anos. Jogo na mesa a carta de Norberto Bobbio, observo: “Você sempre lutou a favor da igualdade”.
 
Deste ponto de vista, há toda uma orientação esquerdista nas políticas sociais implementadas pelo governo Lula e hoje fortalecidas por Dilma Rousseff. E é de esquerda em mais de um aspecto a política econômica do governo atual, mais ousada do que a do anterior ao se desvencilhar das injunções neoliberais.
 
Nada irrita e assusta mais a direita brasileira do que qualquer tentativa de demolir de vez a senzala. É o que me permito explicar ao correspondente de um jornal americano, perplexo diante dos comportamentos da mídia nativa, sempre alinhada de um lado só. Digo: ela é o instrumento da casa-grande. O estupor do colega do Hemisfério Norte não arrefece: “Mas os governos Lula e Dilma produziram bons resultados para todos, senhores incluídos…”
 
Defronto-me, de súbito, com a dificuldade de aclarar uma situação incompreensível aos olhos do semelhante civilizado, capaz de usar, para medi-la, o metro próprio da contemporaneidade do mundo. E aos meus condoídos botões segredo: difícil, difícil mesmo, talvez impossível, trazer à luz da atualidade este cenário tão peculiar, de um país que viveu três séculos e meio de escravidão e que, de certa forma, ainda não digeriu o seu passado.
 
O jornalista americano arregala os olhos: “Mas como é possível que Dilma Rousseff tenha índices de aprovação elevadíssimos e sofra ao mesmo tempo o ataque maciço da mídia?” A presidenta, respondo, pretende erradicar a miséria… Logo percebo que a peculiaridade verde-amarela envolve o próprio governo. Há momentos em que Dilma parece isolada. Solitária. Ela é obrigada à aliança com o PMDB para garantir a maioria em um Congresso inconfiável e a postura do próprio PT é, no mínimo, dúbia. Falta ao Brasil desta hora um verdadeiro partido social-democrático, esquerdista no sentido de Norberto Bobbio.
 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Debate sobre o monopólio da mídia. WebFor 2103



Venha participar do WEBFOR 2013 - Fórum Nacional de Comunicação Digital, em Fortaleza, dias 24, 25 e 26 de maio, e discutir a democratização das comunicações, do marco civil da internet, banda larga, software livre e outros assuntos. Faça logo sua inscrição gratuita pelo e-mail: webfor2013@gmail.com. Vamos oferecer mais de 400 vagas de alojamentos gratuitos em Sindicatos de Fortaleza.
Acesse e compartilhe:

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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Sobre interesses

Daniel Paz & Rudy

Gays assistem entrevista do Silas Malafaia






Parece ficção, mas não é. O comediante Rafael Puetter, o Rafucko, postou nesta quinta-feira 7 um vídeo-paródia sobre a polêmica entrevista do pastor Silas Malafaia à jornalista e apresentadora Marília Gabriela.
Na entrevista, o líder evangélico causou espécie ao discorrer sobre as causas científicas da homossexualidade (sic) e dizer que ama a comunidade gay da mesma forma que ama assassinos. A resposta de Puetter, que ganhou elogios até mesmo do cartunista Laerte Coutinho, veio na sequência: é para rir ou para chorar. Confira:

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Mídia, Capas Pretas e jagunços. Eles vão dar o golpe

O crítico é sempre o chato...aos olhos da massa alienada. COMPARTILHE e CURTA @[296730680350016:274:Filosofia Hoje] ! Participe também do blog www.filosofiahoje.com ***Conheça e INSCREVA-SE no nosso Canal no YouTube neste link http://www.youtube.com/user/FilosofiaHoje/

Saídas da crise: nação ou país mercadoria?

Quando foi eleito presidente do Chile, em janeiro de 2010, o direitista Sebástian Piñera reacendeu a esperança conservadora latino-americana.

Sua vitória reluziu como a revanche diante de um colar de governos progressistas que asfixiavam o horizonte da direita regional.

Enfim, um presidente para chamar de seu.

Um porta-voz moderno do dinheiro grosso.

Alguém talhado para fazer a ponte entre a redemocratização inconclusa e o necessário arejamento das agendas e políticas apuradas no calabouço escuro da ditadura Pinochet.

Antes mesmo de Thatcher, o Chile foi militarmente capturado para ser a cozinha experimental do neoliberalismo.

Talvez fosse mais apropriada a metáfora 'açougue'.

Ali se sangrou, retalhou, picou e moeu uma nação até reduzi-la a uma massa disforme e vegetativa.

Dessa matéria-prima nasceu a primeira receita mundial bem sucedida do cardápio que decretaria o fim do capitalismo regulado, a partir dos anos 70.

O quitute indigesto foi enfiado goela abaixo de uma das nações mais democráticas do continente latino-americano.

Exemplarmente esgoelada na sua tentativa de construir o socialismo pela via eleitoral.

Mestres-cucas da direita regional e global aderiram em massa ao mutirão.

Piñera não serviu diretamente à ditadura mais sanguinária da AL.

Justamente por isso sua vitória em 2010 acendeu o entusiasmo conservador.

Porque pensava igual aos carrascos, sem ter vestido diretamente o capuz negro.

Era a ponte palatável entre dois mundos.

"É provável que se fortaleça na América do Sul uma "frente antichavista", integrada por Álvaro Uribe (Colômbia), Alan García (Peru) e o próprio Piñera".

O augúrio do editorial da Folha, de 22 de janeiro de 2010, externava essa aposta ansiosa.

O dote de mandatário-revelação servia ademais para espicaçar a viabilidade política da jejuna e também recém-eleita presidenta brasileira, Dilma Rousseff.

Transcorridos três anos, Piñera rasteja a caminho de uma derrota sucessória antevista como inevitável, em novembro próximo.

O 'poste de Lula', como dizia Serra, ostenta mais de 70% de aprovação.

O que se passa?

Os jornalismo que apostou na ressurgência neoliberal mostra-se estupefato.

O Chile fez tudo como deve ser.

É a economia mais aberta da América Latina.

O Estado é mínimo: a dívida do setor público é de apenas 11,5% do PIB (36% no Brasil).

A previdência foi privatizada. A proteção trabalhista é pífia.

A linha da desigualdade parece o eletrocardiograma de um morto: oscilou de 0,55 para 0,52 entre 1990 e 2009 (a do Brasil melhorou de 0,61 para 0,54).

Segundo a Cepal (dados citados pelo jornal Valor Econômico), entre 1990 e 2009, o investimento público na área social oscilou mediocremente no país: de 15,2% para 15,6% do PIB.

Até o México deu um passo maior no mesmo período: passou de 5,5% para 11,3% do PIB.

Na direitista Colômbia, o salto foi de 6,1% para 11,5%.

No Brasil, a ' gastança' avançou de 17,6% para 27,1% do PIB; na Argentina, de 18,6% para 27,8%.

O jornalismo conservador atribui à falta de 'traquejo' político do empresário-presidente, o paradoxo entre uma economia 'saudável' e a rejeição política esmagadora.

O raciocínio condescendente desdenha de uma lacuna-chave.

O 'mandatário moderno' esqueceu de transformar a maçaroca econômica em uma Nação.

Por que teria apoio dos órfãos?

O Chile é uma equação de números enxutos.

Uma população de 17 milhões de pessoas, menor que a da cidade de São Paulo; um PIB em torno de US$ 250 bi (o paulistano fica em torno de US$ 220 bi).

Porém, mais que isso.

É um país simplificado por uma ditadura que decidiu exterminar fisicamente o estorvo ideológico e social no seu caminho: a classe trabalhadora organizada.

Uma parte foi sangrada nas baionetas de Pinochet.

A outra, exterminada estruturalmente pelos sacerdotes do laissez-faire.

Os Chicago's boys ergueram no Chile o altar-mor de sua religião nos anos 70.

E nele reduziram o país às suas estritas 'vantagens comparativas'.

Um pomar de pêssego. Vinícolas. Uma mina de cobre .

Um país mercado.

Que como tal não precisa de projeto nacional.

Um fluxo de mercadorias não requer formulação intelectual próprio.

Portanto, não precisa de universidade pública autônoma.

Um aglomerado de consumo não reclama cidadania.

Piñera tentou ser o cadeado moderno entre isso e uma redemocratização intrinsecamente tensa e inacabada.

Os estudantes rechaçaram esse entendimento do que seja um 'Chile moderno' .

E carregaram para as ruas o inconformismo de décadas.

Condensaram um grito de 50 anos numa bandeira ao mesmo tempo simples e ferozmente ampla: 'ensino público, gratuito e de qualidade'.

Nada mais imiscível com isso do que um povo reduzido a uma fila de supermercado.

O fracasso de Piñera não deve ser desfrutado com precipitações simplistas.

O jogo não acabou.

Dilma não tem mais traquejo em campo do que o presidente chileno.

O que Dilma tem de diferente é o fato de representar um esforço político deliberado de construir uma sociedade ao mesmo tempo próspera e justa no Brasil.

Esse vínculo foi extirpado do conceito de economia 'saudável' no Chile.

E não só ele.

A qualidade do desenvolvimento perseguido pelo Brasil ancora-se numa usina de irradiação de riqueza repudiada estruturalmente no Chile desde Pinochet: a industrialização.

A singularidade brasileira não é uma conquista dada .

É um projeto de país diariamente fuzilado e ameaçado pelos interesses que contraria --e que não são poucos, nem apenas locais.

Os embates tendem a se acirrar.

Num mundo estagnado, a pressão para entregar tudo aos detentores dos mercados globais, em voraz processo de reordenação, é cada vez maior.

Não por acaso Aécio Neves cercou-se de profissionais do ramo, rumo a 2014.

Resistir passou a exigir definições mais coerentes e mais profundas.

E linhas de passagem mais curtas e ousadas.

Um trecho do artigo desta semana de Luiz Gonzaga Belluzzo no jornal Valor expressa a tensão estrutural que permeia as escolhas e combinações em jogo.

A cada dia elas se mostram tão ou mais incompatíveis quanto a lógica que ordenou o Chile, de Pinochet a Piñera, e a que sustenta o Brasil, de Lula a Dilma.

Belluzzo com a palavra:

"As vantagens da China e de seus parceiros asiáticos não estão asseguradas. Não há repouso no capitalismo.

Depois da crise de 2008 e de suas consequências, os países que perderam posição na disputa competitiva da manufatura - sobretudo os Estados Unidos - acenam com uma nova rodada de inovações, aquelas que seriam classificadas de "poupadoras de mão de obra" pelos sábios que ainda utilizam funções de produção.

O economista chefe da General Eletric, Marco Annunziata e Kenneth Rogoff preconizam a iminência de um intenso movimento de automação baseado na utilização de redes de "máquinas inteligentes".

Nanotecnologia, neurociência, biotecnologia, novas formas de energia e novos materiais formam o bloco de inovações com enorme potencial de revolucionar outra vez as bases técnicas do capitalismo.

Todos os métodos que nascem dessa base técnica não podem senão confirmar sua razão interna: são métodos de produção destinados a aumentar a produtividade social do trabalho em escala crescente.

Sua aplicação continuada torna o trabalho imediato cada vez mais redundante. A autonomização da estrutura técnica significa que a aplicação da ciência torna-se o critério dominante no desenvolvimento da produção.

O jogo da grande empresa é jogado no tabuleiro em que a mobilidade do capital impõe conjuntamente a liberalização do comércio, o controle da difusão do progresso técnico (leis de patentes etc..) e o enfraquecimento da capacidade de negociação dos trabalhadores.

Assim, as "novas" formas de concorrência escondem, sob o diáfano véu da liberdade, o aumento brutal da centralização do capital, a concentração do poder sobre os mercados, a enorme capacidade de ocupar e abandonar territórios e de alterar as condições de vida das populações". (Luiz Gonzaga Belluzzo; Valor , 05-02)
Por Saul Leblon na Carta Maior

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Quem é a mulher brasileira dos comerciais de TV?

Baseado no que nos dizem os comerciais de televisão, finalmente consegui entender quem é a mulher brasileira.
 
Ela é simpática, meiga, solícita. Independente, mas multitarefa. Não é que não queira a ajuda de ninguém – ela não precisa. Faz questão de trabalhar o dia inteiro e, depois, chegar em casa e cuidar de tudo e dos filhos. E se o marido aguentar, ainda está disponível para muito sexo.
 
Vejamos: ela gosta de fazer uma boa faxina. Daquelas pesadas, que incluem tirar gordura do fogão, a sujeira do chão e o pó que se esconde nos vãos, desde que os produtos usados não irritem muito a pele. E que o sachê para tirar odor do vaso sanitário possa ser trocado facilmente. Afinal de contas, hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás! O que ela mais amaria ganhar de presente de
Dia das Mães, seria uma geladeira e um aspirador de pó.
 
E o momento em que a mulher brasileira mais gosta de dar a geral na casa é quando os filhos clamam por atenção, querendo a velha e boa papinha de nenê com aditivos químicos ou a fralda nova que absorve o xixi antes mesmo dele ser feito. Ou no momento exato em que a horda composta pelos amigos do rebento mais velho resolve vir comer cachorro-quente e sanduíche de peito de peru ao mesmo tempo. É sempre ela, sozinha, que abre as garrafas de refrigerante, engordando a molecada.
 
Até porque, como sabemos, é raro homem aparecendo na cozinha em comercial. Ele só vai para preparar pratos especiais, refinados, gourmet. No dia a dia, o reino das panelas é das mulheres. Para ele, há outras tarefas: aparece com mais frequência, por exemplo, em anúncios de TVs e de carros possantes, deixando claro que tamanho e potência é o que importa de verdade. Ou em cerveja, como se o consumo de álcool fosse algo apartado por gênero. Aí sim, ressurge a brasileira, pelada, sorrindo, esbanjando sensualidade, disponível para qualquer coisa, quase pedindo: “vem cá e me beba inteira”.
 
Voltemos à mulher que acabou de lavar a louça com um detergente que transforma pratos em espelhos e colocar a roupa do marido do futebol na máquina de lavar com um sabão que deixa tudo muito branco. Ela, que nasceu com um cabelo maravilhosamente cacheado, aproveitou o tempinho livre que o uso de produtos de limpeza avançados lhe concedeu e alisa o cabelo com uma das maravilhosas chapinhas anunciadas no canal a cabo. Quer ficar igual às amigas, que são iguais aos comerciais de TV, que são iguais às modelos, que atendem a um parâmetro traçado por alguém em outro continente de que liso é bom, curvo é uma droga. Tem o mesmo DNA de que branco é bom, negro é uma droga.
 
Ela ainda aproveita alguns segundos para untar a barriga com gel emagrecedor, tomar alguns comprimidos feitos com esterco de besouro caolho da Serra da Mantiqueira que prometem emagrecer e depilar a perna com emplastos coloridos que ninguém provou que não são carcinogênicos. Ela está cansada, mas sabe como o marido fica depois de tanto comercial de cerveja. Quer agradá-lo. Coitado, trabalha tanto, né? Vai ao banheiro e esconde o tempo, o cansaço e a idade com maquiagens mil. Diante do espelho, ao ver outra mulher que não ela, uma mulher que ela tem certeza que viu diz desses na TV, sorri.
 
Então, respira fundo para poder aceitar a vida que os comerciais lhe garantiram que ser o modelo de felicidade. Deita-se na cama, enquanto espera. E viaja para bem longe. Sozinha.
 
Pena que, infelizmente, antidepressivo não aparece em comercial de TV. Ainda.
 
Leia mais no Blog do Sakamoto

UAW CAP 2013 - Former Brazilian President Lula (Portuguese)


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

"PROCON" na Argentina favorece os Bancos



O que seria o Procon na Argentina, assinou acordos com bancos e financeiras de indenizações milionárias em favor de 1,7 milhão de usuários. Os convênios livraram bancos e financeiras  de pagar 367 milhões e 99% dos consumidores, nada recebeu. 
 
Leia a matéria completa aqui

domingo, 3 de fevereiro de 2013

A imbecilização do Brasil

Há muito tempo o Brasil não produz escritores como Guimarães Rosa ou Gilberto Freyre. Há muito tempo o Brasil não produz pintores como Candido Portinari. Há muito tempo o Brasil não produz historiadores como Raymundo Faoro. Há muito tempo o Brasil não produz polivalentes cultores da ironia como Nelson Rodrigues. Há muito tempo o Brasil não produz jornalistas como Claudio Abramo, e mesmo repórteres como Rubem Braga e Joel Silveira. Há muito tempo…
 
Os derradeiros, notáveis intérpretes da cultura brasileira já passaram dos 60 anos, quando não dos 70, como Alfredo Bosi ou Ariano Suassuna ou Paulo Mendes da Rocha. Sobra no mais um deserto de oásis raros e até inesperados. Como o filme O Som ao Redor, de Kleber Mendonça, que acaba de ser lançado, para os nossos encantos e surpresa.
 
Nos últimos dez anos o País experimentou inegáveis progressos econômicos e sociais, e a história ensina que estes, quando ocorrem, costumam coincidir com avanços culturais. Vale sublinhar, está claro, que o novo consumidor não adquire automaticamente a consciência da cidadania. Houve, de resto, e por exemplo, progressos em termos de educação, de ensino público? Muito pelo contrário.
 
Nossa vanguarda. Imbatíveis à testa da Operação Deserto
Nossa vanguarda. Imbatíveis à testa
da Operação Deserto
 
E houve, decerto, algo pior, o esforço concentrado dos senhores da casa-grande no sentido de manter a maioria no limbo, caso não fosse possível segurá-la debaixo do tacão. Neste nosso limbo terrestre a ignorância é comum a todos, mas, obviamente, o poder pertence a poucos, certos de que lhes cabe por direito divino. Indispensável à tarefa, a contribuição do mais afiado instrumento à disposição, a mídia nativa. Não é que não tenha servido ao poder desde sempre. No entanto, nas últimas décadas cumpriu seu papel destrutivo com truculência nunca dantes navegada.
 
Falemos, contudo, de amenidades do vídeo. De saída, para encaminhar a conversa. Falemos do Big Brother Brasil, das lutas do MMA e do UFC, dos programas de auditório, de toda uma produção destinada a educar o povo brasileiro, sem falar das telenovelas, de hábito empenhadas em mostrar uma sociedade inexistente, integrada por seres sem sombra. Deste ponto de vista, a Globo tem sido de uma eficácia insuperável.
 
O espetáculo de vulgaridade e ignorância oferecido no vídeo não tem similares mundo afora, enquanto eu me colho a recordar os programas de rádio que ouvia, adolescente, graciosas, adoráveis peças de museu como a PRK30, ou anos verdolengos habitados pelos magistrais shows de Chico Anysio. Cito exemplos, mas há outros. Creio que a Globo ocupe a vanguarda desta operação de imbecilização coletiva, de espectro infindo, na sua capacidade de incluir a todos, do primeiro ao último andar da escada social.
 
O trabalho da imprensa é mais sutil, pontiagudo como o buril do ourives. Visa à minoria, além dos donos do poder -real, que, além do mais, ditam o pensamento único, fixam-lhe os limites e determinam suas formas de expressão. O alvo é a chamada classe média alta, os aspirantes, a segunda turma da classe A, o creme que não chegou ao creme do creme. E classe B também. Leitores, em primeiro lugar, dos editoriais e colunas destacadas dos jornalões, e da Veja, a inefável semanal da Editora Abril. Alguns remediados entram na dança, precipitados na exibição, de verdade inadequada para eles.
 
Aqui está a bucha do canhão midiático. Em geral, fiéis da casa-grande encarada como meta de chegada radiosa, mesmo quando ancorada, em termos paulistanos, às margens do Rio Pinheiros, o formidável esgoto ao ar livre. E, em geral, inabilitados ao exercício do espírito crítico. Quem ainda o pratica, passa de espanto a espanto, e o maior, se admissível a classificação, é que os próprios editorialistas, colunistas, articulistas etc. etc. acabem por acreditar nos enredos ficcionais tecidos por eles próprios, quando não nas mentiras assacadas com heroica impavidez.
 
O deserto cultural em que vivemos tem largas e evidentes explicações, entre elas, a lassidão de quem teria condições de resistir. Agrada-me, de todo modo, o relativo otimismo de Alfredo Bosi, que enriquece esta edição. Mesmo em épocas medíocres pode medrar o gênio, diz ele, ainda que isto me lembre a Península Ibérica, terra de grandes personagens solitárias em lugar de escolas do saber. Um músico e poeta italiano do século passado, Fabrizio de André, cantou: “Nada nasce dos diamantes, do estrume nascem as flores”. E do deserto?
 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

O adeus aos bancos centrais independentes

A mudança de paradigma dos bancos centrais na América Latina foi chamada de populista e demagógica por políticos, funcionários e colunistas do chamado primeiro mundo. Curiosamente, hoje, quando no mundo desenvolvido se sugere ou se pratica abertamente uma mudança de modelo, ninguém se lembra do epíteto.

A análise é de Marcelo Justo, de Londres.

 


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